Nos moldes de "Tempos Modernos"
A Rede Globo vem amargando os baixos índices de audiência atingidos pela novela Tempos Modernos desde sua estreia. Mas não é pra menos. Há um ponto que a Globo parece não ter ainda entendido. Tempos Modernos não é, nunca foi e, espero eu, nunca será uma novela. O dramalhão, a choradeira e todo aquele enredo batido foram substituídos por piadas inteligentes (que, infelizmente, estão sumindo da trama), cenas ágeis, histórias paralelas interessantíssimas e um suspense que te prende por instantes, até que seja revelado no mesmo capítulo ou no seguinte. Bosco Brasil não se detém a apenas uma surpresa, um suspense ou algo do gênero. São vários segredos, várias vertentes. Agora chegamos ao ponto: Tempos Modernos (o próprio nome já diz) é uma novela moderna, diferente! Ou seja, não é uma novela tradicional. É uma novela com moldes de seriado. Tempos Modernos, na realidade, é uma série disfarçada de novela. Para quem quiser comprovar, prestem atenção na linguagem e nos problemas abordados pela novela. Muitos verdadeiros sim, mas muita ficção é abordada no folhetim, o que deixa o público mais desavisado um tanto desconfortável. Um robô que controla todo um edifício, com inteligência aquém de suas funções robóticas não é algo que se vê todo dia (assim como também não se via todo dia um macaco como o Xico de Caras e Bocas, mas esta é outra história). O amor de Regiane e Portinho, a perua Goreti, a vilã Deodora e o rei Leal são alguns dos pontos que podem se aproximar de uma novela mais tradicional, mas toda essa tradição é quebrada, por exemplo, com o núcleo divertido da Galeria, comandando uma massa “indie” do cenário paulista. Tempos Modernos não é uma novela! É uma série. Ou melhor, é uma novela nos moldes de uma série, volto a repetir. Claro, não procurem em Tempos Modernos nada como as séries produzidas pela rede Globo, porque não encontrarão. Encontrarão, sim, uma mistura de seriados americanos com boas tramas teatrais. Essa é a linha de Bosco Brasil: misturar Seinfeld, Cold Case e Desperate Housewives com tragédias tipicamente gregas e textos dos moldes de Tristão e Isolda e 7. Essa não é uma novela, senhoras e senhores, portanto, por enquanto, não a assistam procurando uma Viver a Vida nº2, porque não encontrarão e, se encontrarem, é porque as coisas não estarão corretas.
Entretanto, há de se convir que a maior e única culpada pelos índices baixos foi a própria major Rede Globo de Televisão. Uma coisa é tentar arriscar em coisas deliciosas como Dalva & Herivelto – Uma Canção de Amor, Maysa – Quando Fala o Coração ou até a ótima Cinquentinha, que são minisséries específicas de um público. Outra coisa é querer que um público acostumado a assistir tramas tradicionais numa mistura de comédia&romance aceite de cara uma novela tão inovadora quanto Tempos Modernos, que estreou durante as festividades e as férias, num péssimo horário de verão. É claro que os baixos índices seriam inevitáveis. Se Tempos Modernos fosse exibido como uma série, com toda a certeza o resultado seria outro. A direção é boa, o texto irretocável e as interpretações (destaque para Eliane Giardini, Antônio Fagundes, Débora Duarte, Alessandra Maestrini e Leonardo Medeiros) são sublimes. O que falta é o investimento certo. Faltou bom senso para a major.
Bruno Cavalcanti.
0 comentários:
Postar um comentário
Ola. Sabíamos que você IRIA QUERER deixar a sua opinião!!! Pois faça isso que seremos eternamente gratos!