Emissoras apostam es remakes na corrida pela audiência!
Uma sensação de déjà vu paira na televisão brasileira. Cada vez mais comuns, os remakes – ou, como alguns preferem, adaptações – de sucessos do passado não param de aparecer na grade das emissoras. Mas nem sempre o que já fez bonito uma vez consegue repetir o feito em sua ressurreição. E os próprios autores chamados para dar a tal releitura às obras são os primeiros a constatarem isso. “Há uma linha tênue entre a recriação respeitosa e a reinvenção que se perde”, atesta Thelma Guedes, que atualmente experimenta, ao lado de Duca Rachid, sua primeira novela autoral, Cama de Gato, depois de adaptar com sucesso O Profeta, de Ivani Ribeiro, para a Globo, em 2006.
Mesmo assim, o escritor Tiago Santiago não se preocupa com comparações. E acredita, sim, que partir de um texto bem-sucedido pode lhe trazer bons resultados em sua estreia no SBT. Para o autor de Uma Rosa com Amor, que terá seu primeiro capítulo exibido na próxima segunda, dia 1º, os remakes já contam com a simpatia de quem tem boas lembranças do original. “A novela ganha uma divulgação boca a boca das pessoas que viram e recomendam para quem não viu”, supõe. Mas essa ideia não é compartilhada por outros redatores. Marcílio Moraes, que participou da adaptação de Irmãos Coragem, em 1995, na Globo, e fez uma espécie de junção de A Pequena Órfã com Ídolo de Pano em Sonho Meu, em 1993, alerta que nem sempre as releituras são bem recebidas pelos telespectadores. “Um remake, tanto quanto uma obra original, depende do momento em que é apresentado. Quem escreve tem de ter sensibilidade para perceber isso”, analisa.
Juntar duas novelas também parece ser a proposta de Maria Adelaide Amaral para a próxima novela das sete da Globo. E a trama ainda nem começou a ser gravada e já é vista como nova salvação para o horário das 19 horas, já que Tempos Modernos, de Bosco Brasil, amarga médias mais baixas que a faixa das 18 horas, que costumava ser problemática na emissora. Mas a autora explica que o foco está todo em apenas um dos originais. “Vou pegar Ti ti ti e usar uma ou duas histórias de Plumas e Paetês, ambas de Cassiano Gabus Mendes”, detalha.
Para Duca Rachid, dá para reescrever uma história de um jeito diferente, talvez até melhor. Mas sempre respeitando a essência do original. “Tem de mudar o que não funciona. Adaptar, como diria Walther Dürst, ‘é trair por amor’. Às vezes, um certo tom, ritmo, perfil de personagem ou conflito não funciona mais com o público de hoje”, argumenta. Por isso mesmo, Edmara Barbosa, filha de Benedito Ruy Barbosa e responsável pelos remakes de Cabocla, Sinhá Moça e Paraíso, assume que um detalhe torna o trabalho bem mais fácil nesse aspecto. “Se a trama é de época, esse problema é apagado”, explica ela, que só adaptou uma trama contemporânea.
A discussão sobre a autoria de um remake é polêmica. Mas há quem diga que as adaptações, mesmo feitas a partir de um texto original, são 100% autorais. “É uma obra derivada da nova”, defende Alcides Nogueira, que escreveu recentemente uma versão para Ciranda de Pedra, apresentada pela primeira vez na tevê em 1981. Mas tudo tem seu preço. “Muita gente me acusou de fugir do livro da Lygia Fagundes Telles, o que não era verdade. Só criei uma narrativa diferente da versão de Teixeira Filho”, defende-se. Gisele Joras, responsável pela versão nacional de Betty, A Feia, apresentada na Record atualmente em Bela, A Feia, faz coro. “Considero o que eu faço uma ‘adaptação autoral’, se me permitirem a definição. É adaptação, porque a ideia original da trama central não é minha. Mas autoral, pois escrevo com liberdade”, garante.
Entre o velho e o novo Mesmo assegurando que um remake é totalmente autoral, Alcides Nogueira não esconde que não pretende voltar a escrever outro. “Tenho minhas próprias histórias para contar”, justifica. Assim como ele, vários outros autores não procuram usar como base um texto original do passado. “Trabalhar uma ideia própria é sempre melhor do que pegar um texto de outra pessoa, pela razão óbvia de que você cria uma obra original a partir das suas próprias questões”, resume Marcílio Moraes.
Na contramão dos colegas, Tiago Santiago não se incomoda com essa função. Ao contrário. Se Uma Rosa com Amor trouxer bons resultados para o SBT, o autor que se consagrou com a trilogia Os Mutantes, na Record, pretende adaptar mais um folhetim antigo. “Meu contrato prevê ainda três novelas no SBT. Pretendo que pelo menos duas sejam originais. Mas devo fazer uma outra adaptação”, adianta. Edmara Barbosa também tem vontade de fazer algo autoral na Globo. Entretanto não faz planos imediatos sobre isso. “Sei que tenho de fazer algo meu e já entreguei algumas sinopses para a Globo. Mas, por enquanto, quero continuar aproveitando a parceria com meu pai. Talvez por ser família, a gente acabe se acomodando”, entrega.
Instantâneas # Para Edmara Barbosa, o principal diferencial de suas adaptações para os originais do pai, Benedito Ruy Barbosa, está na forma como cada um enxerga os conflitos abordados. “Dou um olhar feminino à visão masculina dele”, diz.
# Prestes a estrear Ribeirão do Tempo na Record – a exibição do primeiro capítulo está prevista para abril -, Marcílio Moraes preferiu buscar outras fontes nesse trabalho. “Minha inspiração para parte da trama é o autor russo Dostoiévski, talvez o maior romancista da história”, defende.
# Diferentemente de Uma Rosa com Amor, Escrava Isaura, primeiro folhetim escrito por Tiago Santiago como autor principal, em 2004, na Record, não foi um remake. “Eu não podia usar os capítulos do Gilberto Braga, da versão de 1976. Trabalhei histórias e tramas paralelas bem distintas”, lembra.
# Manoel Carlos chegou a pensar em escrever o remake de A Sucessora, exibida em 1978 pela Globo. Mas, agora, já desistiu.
Mesmo assim, o escritor Tiago Santiago não se preocupa com comparações. E acredita, sim, que partir de um texto bem-sucedido pode lhe trazer bons resultados em sua estreia no SBT. Para o autor de Uma Rosa com Amor, que terá seu primeiro capítulo exibido na próxima segunda, dia 1º, os remakes já contam com a simpatia de quem tem boas lembranças do original. “A novela ganha uma divulgação boca a boca das pessoas que viram e recomendam para quem não viu”, supõe. Mas essa ideia não é compartilhada por outros redatores. Marcílio Moraes, que participou da adaptação de Irmãos Coragem, em 1995, na Globo, e fez uma espécie de junção de A Pequena Órfã com Ídolo de Pano em Sonho Meu, em 1993, alerta que nem sempre as releituras são bem recebidas pelos telespectadores. “Um remake, tanto quanto uma obra original, depende do momento em que é apresentado. Quem escreve tem de ter sensibilidade para perceber isso”, analisa.
Juntar duas novelas também parece ser a proposta de Maria Adelaide Amaral para a próxima novela das sete da Globo. E a trama ainda nem começou a ser gravada e já é vista como nova salvação para o horário das 19 horas, já que Tempos Modernos, de Bosco Brasil, amarga médias mais baixas que a faixa das 18 horas, que costumava ser problemática na emissora. Mas a autora explica que o foco está todo em apenas um dos originais. “Vou pegar Ti ti ti e usar uma ou duas histórias de Plumas e Paetês, ambas de Cassiano Gabus Mendes”, detalha.
Para Duca Rachid, dá para reescrever uma história de um jeito diferente, talvez até melhor. Mas sempre respeitando a essência do original. “Tem de mudar o que não funciona. Adaptar, como diria Walther Dürst, ‘é trair por amor’. Às vezes, um certo tom, ritmo, perfil de personagem ou conflito não funciona mais com o público de hoje”, argumenta. Por isso mesmo, Edmara Barbosa, filha de Benedito Ruy Barbosa e responsável pelos remakes de Cabocla, Sinhá Moça e Paraíso, assume que um detalhe torna o trabalho bem mais fácil nesse aspecto. “Se a trama é de época, esse problema é apagado”, explica ela, que só adaptou uma trama contemporânea.
A discussão sobre a autoria de um remake é polêmica. Mas há quem diga que as adaptações, mesmo feitas a partir de um texto original, são 100% autorais. “É uma obra derivada da nova”, defende Alcides Nogueira, que escreveu recentemente uma versão para Ciranda de Pedra, apresentada pela primeira vez na tevê em 1981. Mas tudo tem seu preço. “Muita gente me acusou de fugir do livro da Lygia Fagundes Telles, o que não era verdade. Só criei uma narrativa diferente da versão de Teixeira Filho”, defende-se. Gisele Joras, responsável pela versão nacional de Betty, A Feia, apresentada na Record atualmente em Bela, A Feia, faz coro. “Considero o que eu faço uma ‘adaptação autoral’, se me permitirem a definição. É adaptação, porque a ideia original da trama central não é minha. Mas autoral, pois escrevo com liberdade”, garante.
Entre o velho e o novo Mesmo assegurando que um remake é totalmente autoral, Alcides Nogueira não esconde que não pretende voltar a escrever outro. “Tenho minhas próprias histórias para contar”, justifica. Assim como ele, vários outros autores não procuram usar como base um texto original do passado. “Trabalhar uma ideia própria é sempre melhor do que pegar um texto de outra pessoa, pela razão óbvia de que você cria uma obra original a partir das suas próprias questões”, resume Marcílio Moraes.
Na contramão dos colegas, Tiago Santiago não se incomoda com essa função. Ao contrário. Se Uma Rosa com Amor trouxer bons resultados para o SBT, o autor que se consagrou com a trilogia Os Mutantes, na Record, pretende adaptar mais um folhetim antigo. “Meu contrato prevê ainda três novelas no SBT. Pretendo que pelo menos duas sejam originais. Mas devo fazer uma outra adaptação”, adianta. Edmara Barbosa também tem vontade de fazer algo autoral na Globo. Entretanto não faz planos imediatos sobre isso. “Sei que tenho de fazer algo meu e já entreguei algumas sinopses para a Globo. Mas, por enquanto, quero continuar aproveitando a parceria com meu pai. Talvez por ser família, a gente acabe se acomodando”, entrega.
Instantâneas # Para Edmara Barbosa, o principal diferencial de suas adaptações para os originais do pai, Benedito Ruy Barbosa, está na forma como cada um enxerga os conflitos abordados. “Dou um olhar feminino à visão masculina dele”, diz.
# Prestes a estrear Ribeirão do Tempo na Record – a exibição do primeiro capítulo está prevista para abril -, Marcílio Moraes preferiu buscar outras fontes nesse trabalho. “Minha inspiração para parte da trama é o autor russo Dostoiévski, talvez o maior romancista da história”, defende.
# Diferentemente de Uma Rosa com Amor, Escrava Isaura, primeiro folhetim escrito por Tiago Santiago como autor principal, em 2004, na Record, não foi um remake. “Eu não podia usar os capítulos do Gilberto Braga, da versão de 1976. Trabalhei histórias e tramas paralelas bem distintas”, lembra.
# Manoel Carlos chegou a pensar em escrever o remake de A Sucessora, exibida em 1978 pela Globo. Mas, agora, já desistiu.
POR OLIVER LUIZ
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